sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Dicas de preparação técnica em lutas.

A técnica é uma conquista do homem, pois representa o domínio da inteligência sobre as coisas. (Juscelino Kubitschek)

 

A técnica, sob a ótica do treinamento desportivo, segundo Dantas é: “O conjunto de procedimentos e conhecimentos capazes de propiciar a execução de uma atividade específica, de complexidade variável, com o mínimo de desgaste e o máximo de sucesso”.

Como citado anteriormente, este livro surgiu da idéia de democratizar informações referentes à preparação física de atletas de Jiu-Jítsu, Submission Wrestling, Grappling e MMA, pois existe quase um consenso entre os atletas, especialmente os que contribuíram para esta obra (veja as entrevistas no Capítulo IX) que a preparação física é, atualmente, o grande diferencial entre atletas de elite e não elite; campeões e não campeões. Contraditoriamente, no estudo realizado com 68 atletas de Jiu-Jítsu (faixas marrom e preta) participantes do Campeonato Estadual de Jiu-Jítsu de 2004 (Rio de Janeiro), os atletas opinaram que, para ser um campeão, os aspectos psicológicos (concentração, motivação, entre outros) eram os mais importantes. Em seguida, apontaram os aspectos técnico-táticos e, logo após, os aspectos da preparação física (força, potência, entre outros).

Já em estudos prévios realizados com lutadores de Judô de alto nível competitivo foi observado que não há diferenças significantes na aptidão física dos judocas titulares e reservas da seleção brasileira, para nenhuma das variáveis analisadas. Assim, pode ser que o componente técnico-tático seja muito mais importante que o físico, quando os competidores já estão no alto nível de rendimento. Aparentemente esta indicação é verdadeira, pelo menos no Judô, no qual destacamos duas evidências:

  • Há diferença na quantidade de golpes e na direção que as técnicas são aplicadas entre judocas de nível regional de diferentes graduações: enquanto atletas juniores faixas marrom projetam, em média, para 2 direções diferentes (2,6±1,1), os seniores faixas preta o fazem para 3 (3,3±0,9), desse modo, conseguem projetar os adversários em gama mais elevada de movimentação;
  • Entre competidores de alto nível, todos participantes de campeonatos mundiais e jogos olímpicos, observou-se que os de “superelite”, melhores em cada categoria de peso (conquistando o primeiro lugar), apresentam maior número de golpes que geram pontuação e em direções mais variadas que os de elite, os quais tiveram pódio, mas de segundo e terceiro lugares.

A preparação técnica, segundo Tubino & Moreira, é: “O treinamento dos fundamentos técnicos individuais, acrescidos de seqüências ensaiadas, tudo com o sentido de enfrentar a competição com recursos técnicos suficientes para o alcance do êxito nos objetivos formulados”. Segundo o russo Matveev, a preparação técnica deve ter três propósitos básicos:

  • Ampliação e assimilação da teoria da modalidade em treinamento; 
  • Ampliação da quantidade de destrezas e hábitos motores favoráveis para o aperfeiçoamento da modalidade escolhida;
  • Aperfeiçoamento dos gestos esportivos específicos da modalidade em questão.

Para o técnico de modalidade de combate, faz-se necessário o entendimento de alguns conceitos propostos neste capítulo, referentes à preparação técnica, para maior efetividade e produtividade nos treinamentos por ele ministrados. O autor não apresentará figuras dos atletas demonstrando técnicas específicas das modalidades, pois foge ao escopo original deste livro. Contudo, os conceitos que serão transmitidos, adiante, podem ser muito úteis se bem assimilados pelos técnicos, pois são conceitos extremamente embasados nos alicerces da ciência do treinamento desportivo.

Preparação Tática

Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas. Se você se conhece, mas não conhece o inimigo, para cada vitória ganha sofrerá também uma derrota. Se você não conhece nem o inimigo e nem a si mesmo, perderá todas as batalhas.
(Sun Tzu)

Tática é a arte de dispor recursos de maneira a explorar os pontos fracos do adversário, enquanto, ao mesmo tempo, minimizamos nossas próprias deficiências. O professor cubano Juan Quesada define a tática como: “a forma racional de empregar os elementos técnicos em dependência das condições do atleta, do adversário e do meio onde se desenvolve a competição”.

Preparação tática, segundo Dantas, é “o conjunto de procedimentos que irá assegurar ao atleta ou à equipe a utilização dos princípios técnicos mais adequados a cada situação da competição-alvo ou do adversário”. Já Tubino & Moreira conceituaram a preparação tática como: “a identificação de procedimentos estabelecidos pelos treinadores, cujo objetivo é colocar o atleta na melhor condição de competição, de acordo com as realidades adversárias”. Apesar de didaticamente separarmos neste capítulo a preparação técnica da preparação tática com intuito de facilitar a compreensão de alguns conceitos relacionados a ambos, salienta-se que a preparação técnico-tática sempre deverá ser concebida como uma só unidade, pois as opções táticas são condicionadas pelas possibilidades técnicas.

Nas modalidades de combate, a estratégia do comportamento dos lutadores (referentes aos golpes) apresenta-se na forma de ações de ataque, contra-ataque e defesa. Na estratégia de ataque, os atletas buscam vantagem pela neutralização do adversário pela força, velocidade, superação da ação do adversário, finta de um ataque e concretização de outro, etc.

Dentre as estratégias de contra-ataque, destacam-se as manobras provocativas, ação de superação ou antecipação, defesa de posições, ação pós-defesa no sentido de “arrasar” o adversário, finta de retirada, etc.

Na competição, o atleta de modalidade de combate se depara com situações familiares, que foram intencionalmente criadas nas atividades de treinamento ou em outras competições. Contudo, as situações de conflito são muito variadas e, constantemente, surgem imprevistos gerados por decisões do adversário e pelo momento inicial da concretização dessa decisão.

A relação competitiva com o adversário, a deficiência constante de espaço e tempo, as mudanças rápidas e variadas das condições do combate colocam o lutador diante de vários problemas que dependem de uma resposta racional ou muscular/motora. Ainda, nas competições, por conta da possibilidade de o atleta não ser familiarizado em disputas prévias com o adversário, ocorrem vários enganos no processamento das informações. Além dos enganos naturais, observamos enganos provocados, ou seja, o lutador se esforça para ocultar dados referentes a seus objetivos e planos táticos e técnicos ou fornece informações falsas para confundir o adversário. Essas tentativas buscam afetar o planejamento do adversário de modo negativo, ocasionando inadequação de sua ação.

Portanto, nas lutas, adquire grande significado a habilidade do lutador em influenciar o comportamento do adversário, executando ações imprevistas, ocultando informações e transmitindo informações falsas. A forma básica utilizada para limitar informações é o mascaramento; todavia, freqüentemente a interação lutador-adversário na disputa se dá de forma que se torna mais produtivo taticamente transmitir informações falsas e levar o adversário a responder com uma ação do que ficar controlando os sinais denunciadores de suas intenções. O mascaramento tem dois objetivos: limitar a divulgação de informações ou transmitir informações falsas (esse objetivo é a melhor variante dentre os dois).

Para realizar uma ação tática é necessária análise prévia da situação, representação mental da ação a realizar e solução prática diante do adversário ou do companheiro de treino.

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